Não faça como o Hitchcock: em comunicação, vá direto ao ponto

É difícil encontrar profissionais que tenham o hábito de passar sua mensagem indo direto ao ponto. O formato pode variar de uma apresentação até um telefonema, não importa. Raras são as pessoas que escapam da armadilha de “contar a história antes” de dizer o que precisam. A dica de hoje da Harvard Business Review[i] é muito simples, óbvia e potente. Como grande parte das coisas simples e óbvias, essa dica não é praticada com frequência.

Se você houve com frequência ou diz com frequência frases como “mas qual é o seu ponto?” ou “mas o que você está querendo” há sinais claros que a comunicação está seriamente prejudicada por uma questão óbvia. Quando conversava com membros de minhas equipes sobre a dificuldade que alguns tinham de se comunicar de forma mais clara e assertiva percebia que antes de tudo havia ali um a questão de hábito.

O hábito de refletir sobre o que queremos comunicar é muito mais comum do que o hábito de estruturar a comunicação.  Ser estruturado é uma questão de hábito, exige esforço. Raramente as pessoas se dão ao trabalho de ordenar o que vão falar, até mesmo em apresentações. Como a ordem importa, e muito, uso o mestre do suspense para tornar esse ponto mais claro. Quem tem o hábito de deixar as conclusões para o final está introduzindo um recurso que funciona bem em filmes mas não no mundo profissional. Lembro que quando vamos a um filme de suspense estamos pagando para obter tensão até um fim surpreendente.

Isso é radicalmente diferente do que esperamos no ambiente de trabalho onde esperamos clareza por parte do outro e defesa do uso de nosso tempo.Quando o interlocutor não tem clareza do que estamos querendo e para onde o estamos levando com nossa conversa o resultado é impaciência e um esforço para adivinhar qual é o problema. Temos então alguém irritado e com a atenção desviada para seu próprio diálogo mental.

Nós todos somos condicionados a adivinhar sobre as intenções de quem nos cerca pois isso já definiu nossa sobrevivência há centenas de milhares de anos. Desrespeitar a forma como nossa mente funciona é jogar contra nós mesmos. A turma que não vai direto ao ponto se justifica de várias maneiras.

“Sou prolixo”, “acho que todos precisam conhecer os fatos antes de decidir” , “o problema é complexo”, “se eu colocar o que quero de cara posso levar um não”. Em qualquer dos casos, convém lembrar que enquanto o interlocutor não tiver clareza do que queremos dele, sua atenção estará dividida e sua ansiedade mais alta que o desejável. Bons comunicadores cultivam o bom hábito de estruturar o que vão dizer. Costumam ir direto ao ponto para, apenas após isso, apresentar os fatos importantes e resumir como o pedido é importante para quem ouve. Quem tem dúvida disso tem aqui um convite à reflexão. No meio profissional, não faça como o Hitchcock ou você corre o risco de ter o cinema vazio antes do final do filme, com o público falando mal do diretor.



[i] Adaptado do HBR ONPOINT COLLECTION, Guide to Managing Up and Across

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