Mergulhei com tubarões brancos há alguns dias na África. Fui vítima de um fenômeno tão comum quanto pouco reconhecido: o viés confirmatório. Um de nossos vários “bugs mentais”, esse consiste em enxergar apenas o que queremos ver.Acontece todo o dia com praticamente todo o mundo, com graves conseqüências. É humano ter uma opinião e partir em busca de cada migalha de evidência para validá-la. Ficamos imensamente felizes quando finalmente descobrimos que estávamos “certos”. Dizemos: “eu sempre desconfiei!”, “algo me dizia!”, “eu sabia!”. Veja se você já viveu algo assim. Eu sou apaixonado por animais selvagens e freqüentador compulsivo de zoológicos. Em minha recente visita à África surgiu uma oportunidade: mergulhar em gaiola junto com o magnífico tubarão branco, figura mitológica para a minha faixa etária que assistiu ao hoje “tosco” Jaws no cinema. Eu tinha algumas informações consistentes: a viagem é longa, o barco é pequeno, o mar muito agitado, perto do Cabo da Boa Esperança, a água gelada e turva e nem sempre o bicho aparece. Também ouvi que a sensação de estar imerso com o monstro é indescritível. Chegando lá confirmei com um grupo que havia feito o passeio um dia antes as mesmas informações, com detalhes mais minuciosos: 2 horas de carro para chegar ao barco, 4 horas em um barco pequeno e cerca de 80% das 21 pessoas passando mal, muito mal. Para aqueles que conseguiam ver o tubarão por menos de 1 minuto após imersão gelada de 20 minutos, o comentário pouco original foi: a sensação é indescritível… Após ouvir tudo, fui vitima de um viés confirmatório que me dizia: esse  minuto indescritível deve valer 4 horas de carro, 4 de barco e 60% de chance de ter as piores 4 horas das últimas décadas em uma náusea coletiva. Após conseguir ver meu tubarão a menos de um metro e ter sido um dos poucos que não estava verde de tanto passar mal tenho convicção de que não é algo que faria de novo e não recomendaria a um amigo[i]. A sensação indescritível é tão indescritível quanto ver uma lua nascendo no mar ou comer um pão quentinho saído do forno na padaria. O rótulo “indescritível” nesse caso deu licença para uma aposta claramente desequilibrada. Em empresas uma palavra que perigosamente justifica muitas bobagens confirmatórias é “decisão estratégica”. Apesar de total falta de dados para suportar decisões importantes, certas crenças ou palavras nos despertam uma irresistível de enxergar apenas o que queremos. Se você quer muito algo, pode estar certo, vai acabar achando uma boa ou má justificativa.