Compulsão ou vício?

Nem a lei nem nossas mentes estão preparados para lidar com o impulso de ler e escrever mensagens enquanto dirigimos. Essa é mais uma epidemia causada pelo choque de cérebros com design de 200.000 anos de idade com os hábitos de hoje. Assim como a nação obesa, os Estados Unidos, sofre com o excesso de calorias baratas, o mundo inundado por  telas individuais passou a sofrer com o excesso de estímulos.  Nossos cérebros projetados para vasculhar mudanças no ambiente não resistem à  promessa de novidade de um SMS, Whatsapp ou e-mail para os mais velhos. O que ocorre ao volante é crescente e assustador.

Diariamente  testemunho motoristas em um balé esquisito invadindo as faixas alheias a mais de 90 km/h. Também observo em mim a ansiedade para checar o que chegou no celular por trás de um sinal sonoro ou indicador de nova mensagem. Temos que ser humildes aqui pois quando nossos centros de recompensa nos estimulam com dopamina agimos como drogados e é bastante difícil não fazer besteira. Quem quiser compreender melhor esse importante e novo hábito assassino deve ler o último livro[i] de Matt Richtel, autor que ganhou o prêmio Pulitzer investigando as causas e consequências de dirigir lendo e escrevendo. Acho que vai demorar muito tempo para que os legisladores e lobistas da indústria que quer nos inundar de estímulos e telas embarcadas em veículos e smartphones discutam o que vai nos ajudar a lidar com esse vício. Vício ou compulsão? Não importa, deixem os psiquiatras definirem o melhor termo dessa outra acalorada discussão do momento. Nós sabemos que essa é mais uma escolha nossa que não faz sentido mas que é feita todos os dias. A diferença é que essa é uma escolha que põe em risco a vida dos outros. Essa reflexão precisa ser individual pois a reação coletiva vai se arrastar. Se há 20 anos atrás um filme de ficção científica mostrasse uma cena onde alguém é viciado em escrever e ler enquanto dirige, acharíamos que se trataria de um louco. Não é apenas um louco mas toda uma sociedade enlouquecida que carrega um cérebro paleolítico em ambiente tecnológico estonteante. Somos projetados para não resistir a essa tentação. Que hábitos simples podem nos salvar de nossa automática mente nesse caso ?

[i] A Deadly Wandering: A Deadly tale of Tragedy and Redemption in the Age of Attention. Combina os aspectos neurocientíficos jurídicos e pessoais em torno de uma história verídica onde duas pessoas morreram por alguém que dirigia escrevendo. O agressor se tornou um importante agente na busca de conscientização e desenvolvimento do marco regulatório da questão nos Estados unidos.

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