Apnéia conectiva: Você consegue ficar quanto tempo desconectado?

A dica de hoje da Harvard Business Review sobre como devemos atacar nossas listas de afazeres (to do lists) é “revolucionária” e corajosa pois em minha opinião tem baixa probabilidade de ser adotada. Eles recomendam que comecemos atacando as coisas simples e rápidas, provavelmente para ganhar moral e sensação de que a coisa está indo bem e que só depois nos concentremos em uma tarefa que exija nossa real atenção. Aí eles sugerem que devemos mergulhar na tarefa e que entremos em uma espécie de “apnéia conectiva” onde cortamos nosso suprimento de estímulos com o mundo exterior. Eles recomendam que os avisos de chegada de mensagens, e-mails e telefonemas sejam desligados por cerca de 30 minutos. Com isso os especialistas julgam que utilizaremos ao máximo nossa capacidade de compreender e resolver problemas. Me impressiona o fato de que algo tão lógico do ponto de vista da compreensão de como o cérebro funciona seja tão distante da realidade e mereça espaço em uma publicação de Harvard para executivos. A questão que me chama a atenção é que as pessoas não apenas ignoram que a concentração requer um isolamento mínimo mas não se julgam no direito de exercer essa opção. O que era uma obrigação típica de médicos, alcançáveis em tempo integral desde muito tempo antes do celular, atingiu o trabalhador comum. Temos que ser alcançáveis, diz a norma. Estar sem celular ligado provoca desconfiança geral e sentimento de culpa. Eu também argumento que o nível de ansiedade causado pelo corte de contato com o mundo pode baixar muito a performance de quem não estiver minimamente preparado para esse exercício. Assim, recomendo que aqueles que querem tentar essa estratégia pouco usual que imitem os mergulhadores[i]de competição, aumentando aos poucos o tempo de “imersão” durante o treinamento. Quanto tempo você consegue ficar imerso sem seu celular, sem que ansiedade o prejudique? Mais que os 11 minutos e 35 s do recordista mundial?


[i] O Francês Stéphane Mifsud é o recordista mundial de apnéia estática com incríveis 11 min 35 s sem respirar. Conheço pouca gente que consegue ficar sem checar seu celular por esse tempo. A fonte é a Association Internationale pour le Développement de l’Apnée (AIDA).

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