A conectividade dificulta o autoconhecimento?

Se concordamos que a base do autoconhecimento requer o hábito de monitorar o que vai dentro de nós e de checar ativamente os nossos próprios estados emocionais, que variam e distorcem nossa percepção e nossas decisões, temos um problema. As gerações mais recentes têm sido cada vez mais empurradas para a observação incessante do ambiente externo sem se preocupar com a questão milenar de com que lentes (através de que estados emocionais) observam esse ambiente. Nada de errado com fato da vida mudar e exigir monitoramento cada vez mais constante e fragmentado de nossa parte. O que acho relevante observar é outra questão: Como nós mudamos nossa maneira de ser e agir em função da conectividade crescente? A foto acima é claramente apelativa (será?) mas provoca a mesma pergunta: Que novos hábitos vêm sendo incorporados e quais deles fazem sentido? Eu entendo que um surto de ansiedade irresistível está associado à importância que o absolutamente indispensável celular tem hoje (eu não abro mão do meu, é claro). Cada vez que olhamos para ele pensamos: o que aconteceu e eu ainda não sei? Outros pensam: que mensagem devo disparar para saber de algo ou provocar alguma ação? Tenho um colega que ao entrar no taxi surta em “modo de disparo” e coloca a sua equipe sob intensa chuva de e-mails. Naqueles momentos ele se dedica a “colocar as coisas em movimento”.  Estamos em um ambiente onde o número de disparos ou estímulos aumenta naturalmente, explorando uma tendência humana claríssima: viver em piloto automático, na rota contrária do autoconhecimento. É muito mais natural e cômodo reagir continuamente à estímulos, em ter nossa atenção atraída para a “próxima atração”. Por esse motivo penso que a conectividade atende também a duas necessidades irresistíveis do ser humano: 1) ter sua atenção passivamente  capturada por algo mais interessante que o inabitado momento presente e 2) saciar a ansiedade pelo que está acontecendo em torno de nós. Eu penso que temos um desafio ainda maior do que as gerações anteriores na busca do autoconhecimento. Se concordamos também que precisamos cada vez mais de autoconhecimento para aumentar o nível geral de inteligência emocional em busca de escolhas mais conscientes e menos automáticas, convém aceitar que o desafio está sendo cada vez maior. A tecnologia traz mudanças comportamentais normais e esse é meu foco de interesse aqui, lançar reflexão sobre o que devemos fazer de diferente face à evolução. Que novos hábitos devem ser incorporados ou reforçados para compensar o fato de que estamos cada vez mais distraídos por “disparos” de todos os tipos?  A preparação emocional, que já era tímida, precisaria ser muito mais eficaz. Como você lida com esse paradoxo como indivíduo, pai/mãe ou gestor?

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