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A técnica de reduzir centavos quebrando um preço cheio é conhecidíssima e funciona há mais de cem anos[i]. Por mais que nos achemos imunes a ela cerca de 60% dos preços terminam em 9 e mais outros 30% em 5 sugerindo que nós consumidores reagimos automaticamente à manipulações óbvias, questão central desse blog. O fenômeno é bastante estudado e dentro da lógica de como nossa automática mente funciona existe um mecanismo interessante de culpa em casos onde a compra envolve prazer além de utilidade.
Quando compramos coisas que além de utilidade, um sapato por exemplo, possuem também um componente ligado à status, exclusividade ou prazer de ter algo simplesmente belo nós estamos buscando o que é chamado de consumo hedonista[ii](do grego “prazer”). O impulso de compra hedonista carrega em si a culpa de gastar com algo não “essencial”.
Segundo um estudo recente[iii] divulgado pela Harvard Business Review semana passada é nessa hora que um preço no estilo quebrado, R$ 599, compensa essa culpa de forma curiosa. Esses preços acionam em nós associação automática de desconto/redução e aliviariam a culpa na compra. Dois computadores iguais em termos de utilidade mas diferentes em beleza e peso foram usados nesse estudo. Quando o preço do computador “bonito e mais caro” foi oferecido a $599 em vez de seu antigo preço de $600 o número de compradores saltou de 56% para 85% da amostra.
Um peteleco no preço acionou um forte automatismo nos compradores liberando-os para sua busca por prazer. Estamos falando de universitários americanos que sabem fazer contas mas que como seres humanos são mais automáticos do que racionais. É intrigante observar que para nossa mente automática, o famoso sistema 1, o número 599 pode ser mais parecido com 500 do que 600. Culpa, sensação de desconto, julgar um número pelo primeiro dígito… Essa salada está por trás dos $ 599 que achamos que só funciona com os outros.
[i] Judith Holdershaw, Philip Gendall e Ron Garland: The widespread use of odd pricing in the retail sector.
[ii] Stanford Encyclopedia of Philosophy.
[iii] Jungsil Choi, Yexin Jessica Li, Priyamvadha Rangan, Promothesh Chatterjee e Surendra N.Singh: The odd-ending price justification effect: the influence of price –endings on hedonic and utilitarian consumption.
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