A mordida (mais recente) do Suárez

Suárez despencou do céu como herói da superação para o inferno do rótulo de Drácula do esporte em apenas 5 dias. Eu destaco um aspecto no mar de possibilidades de aprendizado que essa dentada nos deu. Suárez, que já era conhecido mordedor, adquiriu uma aura santa recentemente pela coragem com que superou sua lesão de joelho. Olhem o comentário que foi publicado no Globo.com na fase “Suárez-o-exemplo” :Super-herói? Não. Apenas alguém que honra seu trabalho. Que quer ser exemplo.” Quero destacar aqui um“bug mental” importantíssimo demonstrado pelasreações do público antes e pós-dentada. Trata-se de um automatismo clássico de julgamento que assola a humanidade sem possibilidade de cura, mas que precisa de monitoração:Nós damos peso absolutamente desproporcional e injusto às informações recentes quando decidimos sobre algo. Isso tem impacto direto em nossas vidas. Perto de nossa avaliação de performance todo cuidado é pouco pois o chefe vai julgar o semestre muito em função do que aconteceu nos últimos dias.

Quando julgamos se nossas últimas férias foram bacanas esteja certo de que os seus últimos dias foram decisivos para nossa lembrança da experiência. Isso vale para rotular uma relação amorosa ou profissional. Terminar bem alguma coisa faz profundo sentido do ponto de vista científico. Como somos muito influenciados pelos fatos recentes e dificilmente ponderamos uma experiência de maneira equilibrada, ao  Suárez sugiro considerar tratamento com profissionais e aos leitores sugiro que prestem muito mais atenção ao final de uma reunião, emprego, jantar, férias, período na casa de alguém, casamento ou qualquer coisa que gostaríamos de preservar no clube das boas lembranças. Hollywood, indústria onde poucos são ingênuos,  usa a tática do final feliz que é receita garantida para que soframos 95% do tempo em um filme e mesmo assim gostemos da experiência após um breve final bacana. Isso não é racional, mas quem disse que nós operamos racionalmente? Termine bem as coisas e a lembrança das pessoas será desproporcionalmente mais generosa [i]


[i] Memories of colonoscopy: a randomized trial : Donald A. Redelmeier, Joel Katz, Daniel Kahnemanj. Pacientes submetidos a exames com final menos desagradável descrevem sua experiência de forma mais agradável mesmo que essa consista no exame-padrão somado ao final melhorado, o que não faz sentido do ponto de vista racional.

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