Neuromarketing: o que você vai fazer?

Aconteceu. Centenas de pessoas com dezenas de eletrodos em suas cabeças são estudadas diariamente[i] para que empresas e governos entendam melhor as mentes de consumidores, eleitores e … inimigos.  Neurocientistas em conjunto com executivos de marketing estudam as diferenças entre cérebros de crianças, adolescentes, idosos, mulheres, homens e mulheres grávidas[ii] com alguns objetivos claros: consumo e eleições. Já que isso já aconteceu, faço uma provocação: o que nós estamosfazendo para ativamente entender melhor as nossas mentes?

Como diz a turma que curte Tropa de Elite (1 e 2),  “o sistema é ***” O Pentágono investe em métodos de detecção de mentiras baseadas em neuroimagem. As eleições presidenciais americanas de 2003 já contaram com neurocientistas determinados a influenciar o resultado da disputa Bush-Kerry[iii]. Já aconteceu. Como em todo avanço científico, o uso do novo conhecimento rapidamente atrai a atenção do capital econômico ou político. Não parece razoável para você, que a exemplo de empresas e governos, também nos interessemos em possuir um maior entendimento de como reagimos ao mundo, como decidimos, como lideramos ou como nos comunicamos?

Entendo que a resposta direta a essa pergunta está no uso que nosso sistema de educação formal ou empresarial vai fazercom as descobertas neurocientíficas consolidadas nos últimos vinte anos. Isso pode demorar pois o sistema educacional não tem a velocidade de reação e mudança que corporações e governos possuem. Enquanto nós ainda não temos a oferta de educação emocional baseada em neurociência nas escolas e na maioria das empresas, sugiro que você preste atenção a três competências emocionais amplamente aceitas como decisivas para o sucesso profissional-pessoal[iv]:

1) Autopercepção: A capacidade de monitorar e perceber como estamos nos sentindo e o que estamos pensando. Lembre-se que nossa mente não é projetada para fazer isso. Ao permanentemente checarmos como estamos nos sentindo e pensando, podemos trocar as “lentes” pelas quais filtramos o mundo[v]. Normalmente fazemos o contrário, sempre monitorando ameaças e oportunidades externas.

2)Autocontrole: a capacidade de conter nossos impulsos, uma vez que esses foram identificados. Aqui, o uso da respiração é de extrema utilidade.

3) Empatia: a capacidade de compreender o que o outro pensa e sente. Interessante notar que a maioria esmagadora das pessoas é fascinada em “ler o outro” através de sofisticados sinais não verbais. Acho que isso é importante mas ressalto que se o observador não estiver minimamente centrado e consciente do que ele próprio sente, a observação vale pouco. É como usar um telescópio de pé em uma jangada, balança tanto que é difícil ver algo, por melhor que seja o instrumento. Nos modelos de inteligência emocional mais aceitos[vi], essas três características são consideradas centrais. Todas podem e devem ser desenvolvidas por crianças e adultos. Como você se avalia nas 3 questões centrais acima e o que faz para aperfeiçoá-las? Como avalia seus filhos e amigos? É uma ótima reflexão inicial.


[i] Buyology: Martin Lindstron. Um dos maiores estudos desse tipo envolveu 2.081 pessoas de 5 países para entender o consumo de cigarros. Descobriu-se que aquelas fotos pesadas e avisos dos perigos do mau hábito não só não funcionam mas ativam os circuitos de recompensa dos fumantes e aumentam sua vontade de fumar. Para quem quer ir mais fundo nos mecanismos associados ã vícios, dê uma estudada no papel do núcleo acumbente e nos receptores de dopamina.
[ii] The buying brain: A.K. Praddep. As diferenças cerebrais existem em função de sexo e idade. Os comportamentos de compra e reação a diferentes mensagens é nítido.
[iii]: Buyology: Martin Lindstron .Tom Friedman, ex-assessor do Presidente Clinton fundou a FKF, especializada em neuromarketing e se declara a líder em neuromarketing.
[iv] What makes a leader, Harvard Business Review, Daniel Goleman
[v] Essas “lentes” estão simbolizadas pela barra desse site. Alguns perguntam o que significam e essa é a resposta. O hábito permanente de compreender como enxergamos as coisas e como estamos nos sentindo é básico na rota do autoconhecimento. Não fazer isso é voar em piloto-automático, sem opção consciente de escolhas.
[vi] Assessing emotional intelligence in adults: a review of the most popular measures: David Van Rooy & Chockalingam Viswesvaran.. Embora os autores evitem colocar habilidades em ordem de importância, acredito que ela é básica e claramente trabalhável por meio de técnicas que reforcem concentração.

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