Neuroplasticidade: é importante “malhar” o cérebro

Há um enorme  interesse sobre a capacidade “recém-descoberta”[i] que o cérebro tem de se modificar e criar novos neurônios, mesmo em adultos[ii]. É a neuroplasticidade. É possível mudar a estrutura de nosso cérebro exercitando o cérebro. Você pode e deve fazer isso e estimular a si mesmo e os outros. Um estranho grupo de atletas mentais tem sido estudado para confirmar esse fenômeno[iii]: motoristas de taxi londrinos cujos cérebros são hipertrofiados (aumentados) em uma área particular fundamental para a memória espacial: o hipocampo. Lá a turma é forçada a decorar milhares de rotas para ser aprovada em testes muito rigorosos. Com o treino o cérebro deles se modificou. A turma que estuda como diferentes técnicas de meditação altera a composição e o funcionamento do cérebro chegou a resultados muito animadores em relação à capacidade que todos temos de, em relativamente pouco tempo, promover mudanças importantes e claramente positivas em nossos cérebros com exercícios mentais[iv] As conseqüências são importantíssimas e quero chamar sua atenção para uma delas: é possível aumentar nossa inteligência emocional à custa de treino. Uma aluna, executiva experiente,  deu um exemplo encorajador a todos em sala em um curso que dei há poucas semanas. Ela disse que foi forçada econseguiu desenvolver maior empatia, uma habilidade-chave para obter sucesso. Empatia[v], a habilidade de perceber como os outros se sentem é um pilar da inteligência emocional. Ela conseguiu mudar seu estilo de liderança, que é primariamente baseado em alta energia e vontade de conquistar rapidamente seus objetivos. Pessoas com perfil assim podem ser considerados “tratores” dependendo da atenção que canalizam às necessidades dos outros. A falta de empatia a prejudicava por não conseguir dos outros o apoio necessário para suas realizações. Sem apoio, não se consegue muito não é? Através de esforço incorporou um novo hábito (exercício!): prestar atenção aos outros e em suas emoções. Empatia se desenvolve e é exercitável. A neurociência e a psicologia cognitiva confirmam isso: a empatia está entre as habilidades emocionais decisivas e passíveis de aperfeiçoamento por crianças e adultos. Vamos reforçar aqui dois princípios muito importantes na neuroplasticidade, vista como uma resposta do cérebro ao ato de praticarmos “malhação mental”ou “neurofitness”, mesmo sem consciência disso. Segundo a neurociência, a repetição é a mãe da alta performance. Se você quer adquirir uma nova habilidade, deve reforçar seus circuitos cerebrais dando o que eles precisam para se reforçar: repetição. Não é a toa que tudo o que é importante na vida exige perseverança. A formação de bons hábitos é um processo que exige perseverança, repetição. O nosso cérebro reage à repetição de maneira parecida com nossos músculos: ele reforça as áreas mais usadas. A diferença é que em vez de mais músculos, o cérebro reforça e aperfeiçoa as ligações mais usadas, através de um isolante natural (como a parte de plástico de um fio elétrico) chamado mielina. Além de conexões melhores, são criados novos neurônios nas áreas mais usadas. É assim que o cérebro muda para responder à novas exigências. Ao contrário do que se pensou por mais de um século, essas mudanças não são privilégios da fase infantil. O segundo princípio importante é que os circuitos que não são usados perdem eficiência. Quem passa dos trinta começa a se irritar por não se lembrar do nome de um filme ou de uma atriz famosa… Use ou perca, e não se incomode muito em perder coisas inúteis. Eu também penso que o “neurofitness” é uma área muito promissora para promover uma vida mais rica e interessante e convido você a investigar formas de exercitar capacidades mentais importantes, assim como exercita suas pernas ou abdômen. O que você precisa exercitar mentalmente?


[i] Sharon Begley: Train your mind, change your brain. A neuroplasticidade, como muitas idéias revolucionárias que desafiam a visão de “caciques”científicos, sofreu oposição implacável até ser finalmente aceita. Já em 1890 William James chamava atenção para o caráter “plástico”do tecido nervoso. Entre 1950 e 1970 evidências impressionantes de que os cérebros de animais adultos criavam neurônios e novas ligações foram olhadas com muito desprezo. Foram quase 100 anos de trabalho para que uma “idéia maluca” fosse aceita como séria. Nada de novo na história da ciência.
[ii] Peter Eriksson, Fred Gage: Neurogenesis in the adult human hippocampus: Somente em 1998 a primeira prova contundente de que esse fenômeno ocorria em seres humanos foi obtida à partir de estudo em 5 pacientes que morreram de câncer entre 1996 e 1998.
[iii] Eleanor A. Maguire, Katherine Woollett, and Hugo J. Spiers:  London Taxi Drivers and Bus Drivers: A Structural MRI and Neuropsychological Analysis. Nesse estudo em 2006, é confirmado que os motoristas de taxi em Londres têm alterações importantes em seus hipocampos e são comparados com motoristas de ônibus que não têm grande exigência na memorização de rotas. O estudo  à respeito que caiu no gosto da mídia  em 2000 também foi conduzido pela Dra. Maguire: Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi drivers.
[iv] Richard Davidson, Jon Kabat-Zinn: Alterations in Brain and Immune Function Produced by Mindfulness Meditation.Esse estudo demonstra que em um período de 8 semanas de treino é possível mudar de forma significativa o padrão de ativação entre os córtices pré-frontais (junto da testa). Há evidências crescentes de que quando a ativação é maior no lado esquerdo dessa região estados positivos são mais observados. Isso significa que podemos alterar nossa propensão para coisas essenciais como entusiasmo e perseverança através de treinamento. A turma neurocientífica brinca e diz que para o cérebro funcionar direito devemos usar o lado esquerdo…
[v] Stephanie D. Preston and Frans B. M. de Waal: Empathy: Its ultimate and proximatebases. A empatia é estudada há centenas de anos e há intenso debate. Há três “tipos”de empatia mais aceitos, um que é uma espécie de contágio emocional, em que sentimos o que o outro sente, outro que é uma habilidade mais racional de adotar a perspectiva do outro e compreender o que ele sente e finalmente um impulso de ajudar o outro e retirá-lo de seu sofrimento, beirando a simpatia. Cada pessoa pode ter combinações diferentes dessas características.

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