Primeiras impressões: tudo ou nada?

Sabemos que o ser humano julga e toma decisões em alta velocidade, sem esforço, em tempo integral. Isso também ocorre quando encontramos e “julgamos” alguém pela primeira vez. Ao longo de minha carreira entrevistei centenas de candidatos e sempre tive em mente a importância que aquelas conversas teriam. Sempre me chamou a atenção a falta de preparo técnico das pessoas para um momento onde, em pouco tempo, elas deveriam expressar uma vida inteira de luta, de conquistas. Também me interessava muito observar a velocidade com que eu e meus colegas “juízes” formávamos  visões definitivas e distintas sobre os candidatos. Não é preciso ser neurocientista para já ter ouvido que primeiras impressões são formadas rapidamente e em geral mudam pouco ao longo do tempo. Este fenômeno impacta nossas vidas de forma decisiva, seja em relação a quem escolhemos para construir uma família conosco, quem vai trabalhar conosco ou quem nos convida para trabalhar. Em minha pesquisa sobre o tema confirmei que julgamos e somos julgados muito mais

pela maneira como estamos vestidos, pela geometria de nosso rosto[i], por quanto nos parecemos com alguém que nosso “juiz” conhece, pela maneira como sorrimos, pelo que foi dito a nosso respeito (e quem disse) e por gestos que fazemos sem pensar do que propriamente pela bagagem que temos. Saber isso tem duas grandes utilidades: nos prepararmos melhor para projetar uma imagem mais próxima do que somos e também para julgarmos melhor o potencial daqueles que analisamos.  Como esse é um assunto que pode definir vidas e oportunidades, vou publicar artigos resumindo as conclusões e recomendações baseadas nas publicações clássicas. Começo por uma questão muito estudada: o efeito Halo, descrito pela primeira vez em 1920 por Edward Thorndike. Em nossa eterna predileção por decisões rápidas, a mente não analisa toda a informação disponível e precisa fazer generalizações sobre poucas coisas. É assim que o efeito Halo funciona. Se olhamos alguém bem vestido, saltamos para um monte de conclusões automáticas do tipo: “bom gosto, competente, confiável, etc Sabendo disso, entendo que vale a pena considerar que as pessoas que nos julgam não são programadas para enxergar nosso riquíssimo mas pouco óbvio interior. Convém ajudá-las mandando sinais claros e coerentes com o que somos. Nada contra piercings ou tatuagens mas saiba que pessoas normais tendem a ver essas pequenas características de forma a construir um rótulo instantâneo que pode ser muito diferente do que você deseja e pode projetar. Um dos melhores jovens talentos que contratei em um banco multinacional, um rapaz, usava 3 piercings e cabelo na cintura. Não foi uma decisão fácil e ele quase não entrou. Não é preciso chegar a extremos para confundir quem nos entrevista. Convém facilitar a quem nos avalia com um “Halo” coerente com nossas capacidades?


[i] Leslie Zebrowitz, Joann Montepare: First impressions from facial appearance cues. Alunos esperam que um determinado professor seja justo na medida que sua face se pareça com as de um grupo de professores que sejam justos.

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