Alerta: esteja presente durante o primeiro aperto de mão.

Sou classificado entre o grupo dos extremamente distraídos. Por esse motivo  estou em esforço constante para me manter no momento presente. Pessoas normais habitam o presente em cerca de 50% do tempo[i] pois a alternância entre estarmos aqui e agora ou em qualquer outro momento imaginário é uma característica inerente à mente humana. A distração é fonte de toda a sorte de problemas e quero focar um em particular: o primeiro momento que encontramos alguém. Dados a velocidade e automatismo com que decidimos se gostamos ou não de alguém, é essencial observar esses momentos iniciais levando em conta como a mente humana funciona para que não percamos apoio e suporte de forma definitiva.

Nas últimas semanas voltei minha atenção a um fenômeno frequente e importante no meio profissional. Apertar a mão de alguém sem estar “presente”. Em uma reunião entre dois grupos com cinco pessoas de cada lado, é fácil observar que vários dos 50 cumprimentos (25 iniciais e 25 finais) são de fato agressões. Várias pessoas recebem cumprimentos sem sequer um olhar que confirma a presença mental/emocional do outro naquele momento.

É uma declaração não verbal do tipo: “para mim você não tem importância”. Durante a reunião a sensação se confirma pois  o grupo que está “vendendo alguma coisa” , consultoria, serviços ou produtos, concentra seu olhar na  pessoa julgada mais importante do outro lado, aquela que se acredita que tomará a decisão. Na maior parte do tempo da apresentação os olhos de quem fala se dirige a ele, deixando o resto do grupo em um interessante abandono. No apertar de mão final, a tendência de dedicar atenção de acordo com quem é mais graduado  se repete

Além de ser falta de educação, esse comportamento é pouco inteligente. Em uma decisão grupal o principal aliado pode ser aquele que julgamos menos influente. Além disso, relações nascentes são prejudicadas em seu momento mais decisivo: o começo. Como pessoa muito distraída, reconheço a dificuldade de lembrar a todo o momento o que estou fazendo e porque. Minha recomendação básica mas pouco cumprida para quem quer criar laços e conquistar o apoio de grupos de pessoas durante apresentações ou reuniões é simples: dê a todos o mesmo grau de atenção, estando presente em cada aperto de mão. Coisa muito eficaz e sábia mas raramente presenciada na prática.

Quanto a fugir da tendência de só falar para quem achamos que decide, essa fica para uma próxima. A reflexão final se baseia na pesquisa de Harvard que cito na nota de rodapé: no tempo em que divagamos, somos mais infelizes que no tempo em que vivemos o presente.


[i] A wandering mind is an unhappy mind; Matthew Killingsworth , Daniel Gilbert

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