Neurociência contemplativa: seus filhos vão aprender isso na escola

Quando me perguntam se há uma habilidade central para o desenvolvimento das habilidades emocionais que tanto precisamos, minha resposta é milenar[i]: desenvolva sua capacidade de prestar atenção ao que pensa e sente. Se você pensou: “é só isso?” esse artigo é muito útil para você. A capacidade de prestar atenção ao que estamos pensando e sentindo é absolutamente decisiva e infelizmente, antinatural.  Por isso deve ser treinada pois vai contra o nosso jeito automático de ser. Já é ensinada na escola nos E.U.A. e temos que acelerar o processo por aqui. [ii]. A atividade de prestar atenção aos pensamentos de forma sistemática tem sido estudada em um ramo científico chamado deNeurociência Contemplativa. Os resultados são animadores e apoiam a intuição milenar de que quem medita, treina sua mente, muda a sua estrutura cerebral[iii] e reforça estados mentais positivos, notadamente caracterizados por atividade no lado esquerdo do cérebro[iv]. A natureza não nos aparelhou para prestar atenção ao que queremos, mas sim para monitorar o que acontece a nossa volta de forma automática e para assistir aos “filmes mentais” que a mente não para de jogar em nossa “tela”.

Esses filmes em geral são de suspense, terror ou dramas, e invariavelmente você sofre bastante como personagem principal, chegando a morrer no fim….. Já assistiu a algum drama mental estrelado por você hoje? Eu já. Em todas as listas mais utilizadas para medir habilidades emocionais, a autopercepção figura logo no começo. A maneira como vemos qualquer situação é seriamente impactada pelo que estamos sentindo naquele momento. As emoções são lentes que distorcem nossa interpretação do mundo. A tarefa de checar com que “lente emocional” estamos enxergando em cada momento, e trocá-las para uma lente clara, transparente é a disciplina permanente daqueles que querem evoluir emocionalmente. Parece razoável então que antes de tomar uma decisão ou emitir um julgamento tenhamos uma percepção mínima de como estamos nos sentindo não é?

A autopercepção é a base dos que buscam o conhecimento de si mesmos e de suas emoções para que suas escolhas sejam melhores, para que suas conexões com o mundo sejam fruto do melhor uso de suas mentes, vencendo o automatismo e a insanidade que a ditadura de nossas emoções nos impõe por pura ignorância. Isso pode e deve ser ensinado em nossas escolas e estou disposto a ajudar nisso. Você pode ajudar de alguma forma?


[i] Conhece-te a ti mesmo: essa frase já estava esculpida no templo de Delfos e era usada por Sócrates, segundo Platão, há cerca de 24 séculos.
[ii] Educating people to be emotionally intelligent: Reuven Bar-On, J.G.Maree:
[iii] Alterations in Brain and Immune Function Produced by Mindfulness Meditation: Richard Davidson, Jon Kabbat-Zinn. Richard Davidson é uma leitura extremamente árida para não-médicos e Jon Kabbat-Zinn é indicado para quem já leu bastante sobre meditação pois também é bastante profundo sobre os temas que escreve. Embora respeitadíssimos e fontes de referência obrigatórias para mim, não seriam meus autores “de entrada sobre o tema meditação ou neurociência.
[iv] The brain and emotional intelligence: Daniel Goleman. Os dois hemisférios cerebrais cooperam entre si mas há funções distintas entre eles. Há indícios crescentes de que a atividade na parte esquerda da frente de nosso cérebro (o córtex pré-frontal esquerdo)  contém circuitos presentes em estados mentais positivos como o entusiasmo e engajamento. Também atua moderando a atividade muitas vezes infeliz da amígdala cerebral que provoca os famosos “seqüestros emocionais”onde “perdemos a cabeça.

No Comments Yet.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *