
Falar de pé (falar sentado por motivos misteriosos é muito mais fácil) para um grupo é tarefa que amedronta a maioria das pessoas. No entanto é uma atividade valorizada, importante e cada vez mais comum. Todo mundo tem sua hora usando o famoso PowerPoint. Há mais de 20 anos uso a oratória como uma das minhas principais ferramentas de desenvolvimento pessoal e profissional. Falar em público é um desafio como qualquer outro: exige preparação. Vou focar o aspecto emocional, que é tão importante quando deixado de lado.
Chama a atenção o fato de que as pessoas raramente se preparam para enfrentar o desafio emocional/físico da oratória (não é possível separá-los) e só prestam atenção a uma parte da preparação: como se vestir, como cuidar dos gestos, do tom da voz, da preparação de cada slide (mas raramente do encadeamento dos slides!), do uso de gráficos etc.. Eu percebi que a maioria das pessoas reconhece que o medo é um enorme problema nessas situações, no entanto, vejo pouco interesse dessas pessoas em aprender a lidar tecnicamente com esse medo. Esse é um erro muito comum: reduzimos nossa preparação a aspectos puramente racionais, deixando o entendimento da emoção de lado. As interações humanas são sempre guiadas por emoções. Entender esse aspecto é muito importante. Por esse motivo vemos gente muito inteligente cometendo os seguintes erros minutos antes de falar em público:
- Revisar ansiosamente o material em busca de algum erro: angustiante não é?
- Respirar mal, sem atenção: se sabemos que o excesso ou falta de oxigênio influenciam a capacidade mental faz sentido respirar direito…
- Deixar a freqüência cardíaca aumentar sem controle: o cérebro interpreta o batimento cardíaco crescente como ameaça e reduz a sua capacidade de raciocinar e de lembrar-se de fatos. É por isso que esquecemos coisas banais sob tensão e as palavras nos fogem. Nervosos, ficamos menos inteligentes e desmemoriados.
- Pensar em perguntas terríveis que a platéia pode fazer ou em desfechos desfavoráveis: é difícil transmitir confiança quando nos sentimos encurralados.
Essa falta de consciência sobre como nosso corpo e mente se transformam antes de um evento é muito comum. Após alguns minutos respirando mal e pensando em coisas horríveis o desfecho é previsível: Alguém ofegante, pálido, com a voz entrecortada, raciocínio lento com postura defensiva ou agressiva demais. Uma das maneiras mais garantidas de atingir o QI do Homer Simpson é deixar a ansiedade e sua conseqüente falta de coerência respiratória tomarem conta de você. Nosso cérebro é programado para nos privar de nossas funções mais refinadas quando recebe sinais de perigo através do corpo. O batimento cardíaco e o ritmo respiratório são muito eficientes tanto para roubar recursos intelectuais quanto para nos dar capacidade máxima. Para quem se interessa nos mecanismos mente/corpo sugiro “Curar” de David Servant-Schreiber. Demorei algum tempo até perceber que nos minutos que antecedem uma apresentação é fundamental respirar corretamente e assumir a gestão de meus pensamentos. Isto parece “conversa de maluco” para você? Se a resposta é sim peço sua especial atenção. Esse enfoque tem sido tema de estudos científicos consistentes e amplamente aceitos. Conceda a si mesmo o tempo para se atualizar sobre o que ocorreu nos últimos 10 anos em termos de preparação pessoal. É inevitável sentir algum nervosismo. A questão não é eliminar a emoção, mas assumir a sua gestão. Eu, felizmente1, sinto até hoje um “frio na barriga” antes de me apresentar, mas estar mobilizado para falar é muito diferente de estar paralisado ou prejudicado. Da próxima vez que for falar, experimente lembrar que pensamentos catastróficos e falta de atenção a sua respiração garantem uma apresentação torturante para todos os envolvidos. Para quem se interessa por oratória, uma fonte obrigatória no Brasil é Reinaldo Polito.
1 Algum nível de tensão é desejável para que estejamos mobilizados e vibrantes na dose certa. Comunicadores que não demonstram interesse, captado em forma de emoção,pela platéia ou pelo assunto não deixam boa impressão.
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