Quais são as raízes da intuição? visão científica

Se alguém se declara fortemente intuitivo, é bom que seja fortemente experiente. Do contrário, segundo a ciência, pode ser mais uma pessoa impulsiva, que abre mão de ponderação e análise dos fatos.Quais são as raízes da intuição? De onde “brotam” aqueles julgamentos onde apenas “sentimos” qual é o rumo certo sem uma análise mínima dos fatos? Pessoas que se consideram intuitivas e confiam em sua intuição tem respaldo da ciência em sua crença? Em primeiro lugar, a intuição não precisa ser algo místico. A intuição, segundo a visão científica, é um processo de decisão rápido e inconsciente baseado nas experiências de cada pessoa[i]. Isso significa que quanto maior a experiência, melhor a intuição. Isso joga por terra a hipótese de que existem pessoas com grande intuição para tudo. A intuição é específica. Um bombeiro tem intuição superior sobre a hora de sair de um prédio em chamas, um detetive sobre se uma testemunha está mentindo, um gestor de pessoas experiente sobre um candidato, um atleta sobre a posição que deve estar em campo para receber a bola, um executivo de vendas sobre se um cliente vai fechar ou não e uma mãe sobre a saúde de seu filho. Todas essas pessoas tomam decisões em uma fração de segundo, baseadas em suas intuições. Me encanta por exemplo a intuição das mulheres quando olham para seus filhos e dizem que eles estão com febre enquanto muitos pais precisam de um termômetro (o teste da mão não funciona bem para mim) para chegar à mesma conclusão. As mães não precisam de um dom paranormal nesse caso pois certamente observaram muito mais e melhor[ii] os sinais sutis sobre seus filhos ao longo do tempo e detectam pequenos desvios que justificam seus diagnósticos. Essas pessoas, que claramente são capazes de julgar situações muito complexas em segundos, têm em comum uma coisa: experiência sobre o assunto na qual possuem intuições fortes. A intuição está muito ligada à observação e análise de padrões durante muito tempo, que dá às pessoas a capacidade de recorrer a um grande “banco de situações”  essencial para que seu sistema automático de decisão (aqueles que funcionam o tempo todo na gente) tenha material suficiente para “sugerir” uma única alternativa. Curiosamente a intuição não fornece opções, apenas uma única rota a seguir. Usando a imagem desse artigo, se nossas intuições são fruto de nosso sistema automático de decisão, as raízes desse processo são nossas experiências. Como sempre, parece que o caminho do meio é recomendado. Nem é possível ficar paralisado colhendo dados e analisando cenários nem é aconselhável reagir ao que sentimos de bate-pronto, acreditando que nossa intuição é “superior”. Temos dois grandes sistemas de decisão[iii] (que falham com frequência) e o desafio é compreendê-los melhor e harmonizar os dois. A intuição é essencial e automática, só não deve reinar absoluta. Intuições, todos nós temos. O que varia muito é nosso nível de crença sobre elas, a qualidade delas e nossa disposição para confrontá-la com alguma análise. Quão intuitivo(a) você é ?


[i] Esse artigo é inspirado no trabalho do Dr Gary Klein, PhD, especialista renomado em intuição. Sugiro a leitura deThe Power of Intuition para quem quiser se aprofundar no tema.
[ii] Em meu artigo de 28/10 sobre o cérebro das mulheres: “Na mulher as estruturas dedicadas ao reconhecimento de emoções e memórias emocionais são maiores e elas são naturalmente mais interessadas que os meninos em olhar para rostos já nos primeiros 3 meses de vida.”. Entendo que as mulheres são em média mais aparelhadas para detectar sinais de mudança em seus filhos.
[iii] Steven A. Sloman: The empirical case for two systems of reasoning. A idéia de que nosso processo de tomada de decisões é baseado em dois sistemas é influente em meus artigos. Além de Sloman; Evans & Over (1996), Stanovitch (2004) e Kahneman & Frederick (2005) são recorrentemente citados para basear essa teoria.

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