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Você trabalha com pessoas que são especialistas em “pintar quadros desesperados” das situações? Aquela turma que costuma chegar na sua mesa com uma expressão semelhante à do quadro acima? Cuidado, eles fazem mal a saúde e nos emburrecem. A obra acima, “O grito” [i], do pintor expressionista norueguês Munch, ficou mundialmente famosa por sua capacidade de provocar fortes reações ao retratar o mais absoluto desespero.
Alguns críticos da época chegaram a recomendar que mulheres grávidas não olhassem para a obra por temerem pela saúde. Trabalhei com muitos “especialistas” em pintar situações com desespero. Eles acham que sem urgência nada acontece. Acreditem, eles além de prejudicarem nossa saúde também prejudicam a qualidade de nossas decisões. Curiosamente, a área de vendas frequentemente se expressa de um jeito angustiado e desesperado para as áreas internas, o que raramente é eficiente. Em um próximo artigo podemos discutir se a turma sempre grita por que não se sente ouvida ou se não é ouvida porque sempre grita. Não importa a conclusão, pois gritar não é eficaz na maioria das situações. Repare que as pessoas que são emocionalmente hábeis sabem despertar as emoções adequadas nos outros, para que a sua comunicação ajude a obter o que elas querem.
Elas “pintam um quadro” que facilita os seus objetivos. Isso é mais uma daquelas coisas óbvias e importantíssimas que pouca gente faz. Quando fazemos julgamentos, é fundamental saber que estes dependem muito de como estamos nos sentindo no momento. Se você descreve uma situação nesse estilo desesperado, saiba que vai produzir sentimentos angustiados e em seu interlocutor. A angústia exagerada não nos faz mais inteligentes, não amplia nossa capacidade de escuta nem nossa empatia. Nessas condições nosso cérebro se reconfigura[ii] para o combate ou a fuga. Um estudo clássico de como emoções influenciam[iii] a razão reuniu médicos (pessoas consideradas racionais) e apresentou uma mesma proposta “pintada” de duas formas, uma focando no lado bom e outra focando no lado ruim das coisas.
Os médicos do estudo se mostraram muito mais propensos a aceitar um tipo de tratamento experimental quando ouviam que na maioria das vezes os pacientes sobreviviam. Quando o tratamento era proposto apontando que a minoria dos pacientes não sobrevivia (exatamente a mesma coisa, apenas enfatizando um final infeliz ) a adesão era muito menor. Os médicos mostraram nesse caso uma preferência irracional já que mudaram radicalmente sua decisão em função da emoção que os conceitos de “sobrevivência”ou “morte”proporcionavam. O ser humano é assim, dependendo do enquadramento que se dá a um problema, as decisões variam muito. Sabendo disso proponho duas reflexões finais. Você dedica sua atenção a “pintar” o seu caso de modo a criar emoções corretas em seu interlocutor? Você tem consciência que “pintar o quadro”com as cores corretas faz diferença?
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