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… nós temos algo maior em comum? Usei esse hino do Pink Floyd[i] que fará 40 anos em setembro para provocar uma reflexão. Todos sabemos que gostos em comum, não apenas musicais, fazem parte do repertório de aproximação entre desconhecidos. Não me sinto particularmente tocado caso uma pessoa diga que também gosta de pizza ou moqueca de camarão mas admito que com música o negócio é diferente. Por motivos ignorados o ser humano acha que o gosto musical indica os valores de uma pessoa e seus principais traços de personalidade [ii]. “Quem não gosta de samba bom sujeito não é” disse Dorival Caymmi em 1940 relatando bem essa tendência (e capacidade) humana de julgar em velocidade baseada em poucas informações. O sujeito que curte clássicos e jazz é em média mais introspectivo e voltado a questões mais profundas ? Amantes de rock prezam liberdade e são inconformados? A rapaziada do punk tem aversão a autoridades e é agressiva ? E a galera do bate-estacas? Sabemos que julgamos desconhecidos em alta velocidade, automaticamente, baseados em programas mentais (algoritmos para quem prefere) que não analisam o quadro todo mas pouquíssimas coisas como o formato do rosto, roupas e as músicas que preferem. A informação de que alguém adora Wish you were here caso você também adore é relevante para que você tenha imagem positiva dessa pessoa. O estudo que citei também mostra que apesar da música facilitar a aproximação entre pessoas o fato de termos gostos diferentes tem impacto neutro. Em resumo, se você curte samba, vai julgar positivamente quem gosta de samba por achar que essa pessoa tem valores parecidos com os seus. Caso contrário não chega a ser uma sentença de impossibilidade de relação. Admito que para grandes diferenças de gosto (clássico x funk carioca ou rock progressivo x techno) a coisa possa ser menos neutra. Extremos à parte penso que esse erro de programação mental, de julgar personalidades e valores por gosto musical, acaba ajudando aproximações e é relativamente pouco discriminatório e por isso seria um bom erro. Quando receber alguém em casa vale saber antes não só o que os convidados gostam de comer e beber mas também ouvir. Ajuda a criar laços que mesmo baseados em distorções de julgamento, aproximam pessoas.
[i] Agradeço ao meu filho Pedro, especialista em Pink Floyd, que me impediu de colocar a foto do Dark side of the moon por engano.
[ii] Diana Boer, Ronald Fischer, Micha Strack, Michael H. Bond, Eva Lo e Jason Lam: How Shared Preferences in Music Create Bonds Between People: Values as the Missing Link.
Julho 10, 2015
Adorei o “esteja presente durante o primeiro aperto de mão”.
Essa proposta pode mudar o nosso modo de ver o mundo e a nós mesmos!
Julho 11, 2015
Concordo Vera, estar presente é bem difícil mas vale buscar presença em momentos importantes.
Julho 10, 2015
É interessante como a música pode influenciar as relações humanas.
Tenho um amigo que era fanático e foi o responsável por eu gostar tanto de hard rock (Deep Purple, Black Sabbath, Dio…). Outro dia ele me surpreendeu dizendo que foi a um show do Backstreet Boys (!).
Seria uma evolução musical (para algumas pessoas talvez “involução” musical) para se tornar menos radical e mais eclético? Na realidade foi a forma que ele encontrou para xavecar uma garota! kkk
Julho 10, 2015
adorei. Deu uma vontade danada de escutar WISH YOU WERE HERE… com o trio: mario, rodrigo e pedro. saudades bjos
Julho 11, 2015
Com a turma de Recife no backing vocal fica perfeito. bjos em todos
Julho 14, 2015
Fantástico, porque define as reações inconscientes que temos das pessoas à primeira conversa. Preferências musicais nos proporcionam um julgamento de valor na outra pessoa, nos proporcionam imaginar quão distantes ou próximos somos do outro. Eu sempre dei muito valor à musica, em algumas fases foi fanático e em outras, apreciador, mas não tenho como negar de que a música sempre fez parte da minha vida. Em dezembro de 2008, na primeira noite de vida da minha filha Yasmin, em meus braços, ela me ouviu por horas cantar (ou tentar) Happy Xmas de John Lennon. À propósito, assim como Pedro Martins, eu também sou fã incondicional de Pink Floyd e adoro Wish You Were Here. Belíssimo texto.