Flow na cozinha

Estou fascinado em cozinhar. Em apenas um ano esse hobby superou paixões antigas pela música e pela escrita. Nos fins de semana eu pesquiso sobre cozinha e cozinho para a família. Comentei isso com meu amigo José Júlio que reclamou de minha baixa produção de textos e ele disse simplesmente: então escreva sobre isso… Valeu Zé. Pensei bem e algo me chamou a atenção. Essa atividade se encaixa nas coisas que faço com tanto prazer que não sinto nada à minha volta. Muitas vezes fiquei tão concentrado em ler ou produzir uma música que já aconteceu de  anoitecer sem que eu percebesse. Minha mulher gentilmente acendia a luz  para mim, hiperfocado no computador. Não sentia a passagem do tempo. Hoje esse hiperfoco acontece quando preparo algo para as pessoas que mais amo, minha mulher e filhos, família e amigos. Você provavelmente conhece atividades que têm essa característica única: fazemos as coisas com tanto empenho e concentração que as horas passam sem que percebamos. Não é mera diversão passiva, é se dedicar e realizar algo que exige sua atenção plena. Cozinhar, jardinagem, fotografar, arrumar as coisas, dirigir em estradas esburacadas, tricotar, pintar, ensinar, costurar, falar em público, tocar um instrumento, subir uma montanha, a lista é grande… Quem tem interesses profundos em algo qualquer sabe bem o que significa entrar em Flow, fluir. Psicólogos que estudam a alta performance se inspiram no trabalho de Myhali Csikszentmihalyi[i] que é interessado em felicidade e nas coisas que nos fazem felizes, coisas que nos levam ao estado de Flow, onde a noção de nossa própria existência e ego ficam suspensos e simplesmente nos fazem inteiros e focados no que fazemos. Foi no último Natal que descobri que cozinhar é algo que me leva a fluir.  Passei mais de 3 horas cozinhando em pleno verão carioca. Eu detesto calor e fujo dele. Quando vou ao Rio no verão costumo ficar entocado no ar condicionado. Naquele dia 24 passei horas em uma cozinha carioca, por definição muito quente, mas só percebi que estava com muito calor quando finalizei o prato. Pensei que se algo me fez esquecer dos 46°c sem reclamar por horas, isso tem que ser algo muito especial para mim. Colocar atividades que geram Flow em nossa vida é essencial para dar mais sentido e qualidade à vida. O que te dá Flow? Quanto tempo você dedica a isso para se recarregar?

[i] Se quiser ver o próprio Myhali falando no TED, eu recomendo! Quem quiser ler sobre o tema pode buscar  “A descoberta do fluxo”, do mesmo autor.

8 Comments
  • Ana claudia Rufino
    Janeiro 31, 2016

    Ehhhhh. Já tô feliz de ter de volta minha leitura dominical…. continue em flow Mario. Vc escreve com uma leveza, que a descrição para seus textos na minha visão e: Domingo de manhã, café e texto do Mario…..
    Obs: mexeu comigo esse texto. Estou tentando descobrir o que me deixa tem flow. .

    • mario_henrique_martins
      Janeiro 31, 2016

      Valeu Claudia. Sugira temas sempre que quiser.

  • Valcir
    Fevereiro 1, 2016

    Certamente nosso estado de “flow” se conecta com diferentes ações de tempo em tempo, aquilo que antes era ativado pelo prazer de escrever, agora vem pelo ato de cozinhar. A vida sempre está em movimento, é um prazer encontrar razões para vê-la sempre com harmonia, é fascinante como estamos a cada instante buscando nosso ápice. Belíssimo texto!

    • mario_henrique_martins
      Março 25, 2016

      Valeu Valcir,que bom ver novos interesses renovando as coisas.

  • Edna Rocha
    Fevereiro 1, 2016

    Estava sentindo falta também e achei ótimo o texto e preciso descobrir o meu flow urgente. Desejo muito sucesso!
    Obrigada

    • mario_henrique_martins
      Março 25, 2016

      Grato Edna, boa sorte.

  • José Júlio
    Fevereiro 2, 2016

    Cozinhar Mário deixou de ser apenas um Hobby e também passou a ser uma paixão…
    Com certeza, tudo que fazemos com paixão nos coloca em estado de flow.
    Seja a dança, musica, esportes, leitura e até mesmo trabalhando..
    Obrigado por mais uma vez nos fazer refletir..
    Forte abraço.
    J J

    • mario_henrique_martins
      Março 25, 2016

      Valeu mestre.

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